São Pio X e a infiltração dos modernistas na Igreja – Plinio Corrêa de Oliveira

 

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1-05-1989 CCEE

TRANSCRIÇÃO: https://cruciferos.wordpress.com/2020/07/01/sao-pio-x-e-a-infiltracao-dos-modernistas-na-igreja-plinio-correa-de-oliveira

Áudio editado SEM GRITINHO JOANISTA, COMO TUDO NO CANAL.

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Santa Bibiana, rogai por nós!

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[leitura de diversas perguntas]

(…) Porque convém tomar os assuntos mais difíceis, e tratar deles diretamente.

O que é que nós devemos pensar, antes de tudo, o que é que nós devemos pensar a respeito da crise da Igreja? O que é que vem a ser esta crise que está na Igreja; aonde ela conduz, etc., etc.

A crise na Igreja consiste no seguinte. Foi Papa da Igreja Católica, São Pio X, no ano mais ou menos de 1902 ou 1903 (não me lembro bem o ano em que começou o pontificado dele – 9 de agosto de 1903), até o ano de 1914 (20 de agosto de 1914), em que ele morreu misteriosamente. Arrebentou a 1ª Guerra Mundial, e pouco depois, misteriosamente, morria o Papa São Pio X.

Um Papa que um jornalista francês, não católico, um jornalista desses jornais que andam por aí, qualificou muito bem que quem ia ao Vaticano e o encontrava, estava com ele, tinha a impressão de estar diante do anjo que a Escritura descreve como estando do lado de fora do paraíso, com uma espada feita de fogo, à espera de quem quisesse varar lá, para cortar!

Realmente, ele era uma figura angélica! Um homem de alta estatura, muito forte, daqueles italianos do norte, da região do Veneto, com muita personalidade, e sobretudo no todo da pureza, da firmeza de princípios, da renúncia completa a si mesmo, que caracteriza o verdadeiro santo da Igreja Católica!

Esse Papa baixou, a certa altura do pontificado dele – que, como eu disse, foi de 2 ou 3 a 14, e portanto mais ou menos uns 12 anos – lá por 1910, se não me trai a memória, ele baixou uma Encíclica que deixou todo mundo pasmo: Pascendi Dominici Gregis (de 8 de setembro de 1907, n.d.c.). A Encíclica tinha o título: “Apascentando o rebanho do Senhor”. O Senhor é Nosso Senhor Jesus Cristo, evidentemente; o rebanho é a Santa Igreja Católica.

“Apascentando o rebanho do Senhor”, eram as palavras com que ele começava a Encíclica. Toda Encíclica tem por designação as primeiras palavras com que começa. Então, essa ficou a famosa Encíclica Pascendi Dominici Gregis.

Ele, nessa Encíclica, desenvolveu uma concepção, uma teoria e uma descrição do estado em que estava a Igreja no tempo dele. E, depois, ele ainda escreveu uma carta intitulada Carta apostólica “Notre Charge Apostolique” (Nosso encargo apostólico, de 25 de agosto de 1910)”.

É hábito da Santa Sé, quando se dirige aos bispos de várias nações, escrever em latim. E quando se dirige aos bispos de uma só nação, por amabilidade paterna, dirigir-se no idioma dessa nação. A Encíclica Notre Charge Apostolique era dirigida ao Episcopado francês. E, portanto, era escrita em francês. E as palavras com que começava eram: “Nosso encargo apostólico”.

Essa Encíclica completava, mais ou menos, a Encíclica Pascendi Dominici Gregis, e dava um quadro da situação da Igreja, naqueles tempos tão remotos de hoje em dia. Nós estamos, afinal de contas, no fim da penúltima década do nosso século. Ele estava de cheio na segunda década em que o século começa: na segunda década do começo, e nós estamos na segunda década que precede ao fim. Essas eram as duas datas em que saíam essas encíclicas, e a diferença conosco. É perto de um século, são 80 anos mais ou menos de diferença.

Entretanto, se nós lermos a Encíclica Pascendi Dominici Gregis, sobretudo, mas também a Notre Charge Apostolique, nós nos daremos conta de que ele descreve uma situação muito parecida com a situação de hoje, vai até o fundo dessa situação. E nada é mais útil para conhecer a situação de hoje, do que ler essas encíclicas. Um dia em que houver tempo, e em que se possa fazer isso, nós poderíamos arranjar essas encíclicas em português, distribuir mimeografadas, e pôr os principais trechos. Então, fazer o comentário com os Srs. dos principais trechos dessas encíclicas, para os Srs. verem a semelhança entre uma coisa e outra.

O que é que afirma São Pio X na Encíclica Notre Charge Apostolique? Eu não me lembro, evidentemente, das palavras da Encíclica, nem me lembro de cada pensamento da Encíclica. Eu me lembro do vulto geral do pensamento da Encíclica. E é isso que eu vou dar aqui aos Srs.

Ele diz que a Igreja Católica se encontrava naquele tempo imersa num mundo que tinha um pensamento oposto ao dela. Era um mundo revolucionário, um mundo com as idéias provenientes – mais ou menos o que está na RCR [Revolução e Contra-Revolução] – provenientes do protestantismo, da Revolução Francesa, etc., que se chocavam com a concepção que a Igreja tinha do mundo, e de como deve ser organizada a civilização cristã.

* Uma pan-religião de um deus inexistente

Mas, também se chocavam contra a doutrina que a Igreja ensina de si mesma. E que se tratava de uma organização colossal de hereges, que estava espalhada pelo mundo inteiro, e que tinha uma organização clandestina, uma organização escondida. E que ficaria escondida até que eles fossem bastante fortes para meter a cabeça fora d’água, e começar a proclamar as suas heresias claro. E que era uma verdadeira conjuração dentro da Igreja Católica.

No que consistia a doutrina dessa gente?

A doutrina dessa gente consistia em afirmar que Deus não é uma Pessoa. Deus é uma força que existe na natureza, e que se confunde com a própria natureza. O que equivale a dizer que não há Deus, porque se Deus não é uma Pessoa, não há Deus. Há uma causa das coisas, mas uma causa que não pensa, uma causa que não reflete, uma causa que é um impulso ou é um instinto. Isso não é um homem, não é um ser dotado de inteligência, não é Deus!

Portanto, no fundo, panteístas. Quer dizer, os que acham que Deus é uma coisa que não se distingue do universo, mas que está misturado no universo, como por exemplo a vida existe nas plantas, nos animais, nos homens. Mas Deus não é a vida que existe em todo mundo, nem a vida que existe em cada um é igual à vida que existe no outro. Isso é uma mentirada para velar o ateísmo.

Bem, e que a Igreja Católica, toda a doutrina da Igreja Católica era interpretada errada, era a interpretação errada da Escritura e, portanto, também do Evangelho. Que bem interpretados, nós chegávamos à conclusão de que o mundo precisava passar por uma reforma completa; que era preciso acabar com os cultos antigos a Nosso Senhor Jesus Cristo, ao Padre Eterno, ao Divino Espírito Santo, a Nossa Senhora, aos santos, aos anjos. Porque no fundo, Deus sendo uma força, existe em todas as religiões; e que todas as religiões se equivalem: podem se misturar umas com as outras que dão todas na mesma. E que tanto faz o indivíduo ser protestante como católico, como greco-cismático, como budista, como tauísta, como qualquer outra coisa. Tanto faz, porque no fundo, apalpando bem, as religiões são a mesma religião.

* Na surdina ia desenvolvendo-se a pior das heresias, injetada nas próprias veias da Igreja, e querendo destruí-La de dentro para fora

E que esta única religião deveria aos poucos ir corroendo por dentro todas as religiões, e transformar-se numa só religião, que era uma religião inteiramente nova. Uma religião com uma moral muito evoluída, em que os preceitos morais seriam muito mais fáceis de cumprir, muito mais agradáveis: era a imoralidade transformada em moral.

E que, por outro lado, a igualdade completa entre os homens acabaria com toda a hierarquia. As diferenças de fortuna, de inteligência, de posição social, de talento, tudo isso devia acabar. Todos os homens deveriam ser completamente iguais aos outros. E nós teríamos assim um mundo futuro, que era o mundo novo de uma religião nova, formando uma República Universal. Isso seria o mundo para o qual se devia caminhar.

Mas, eles adotavam uma técnica. Eles diziam – diz São Pio X – que se eles fossem declarar isso de um modo ostensivo para todos, isso provocaria, evidentemente, uma revolta. E que esta revolta era nociva a eles. Então, eles deveriam proclamar isto, e ensinar isto, só para as pessoas que eles percebessem que iam facilmente no conto. Os outros, não. Eles deveriam ir aos poucos apresentando figuras deformadas da Igreja Católica; cada vez menos parecida com a doutrina tradicional, e mais parecida com a doutrina nova. E que os principais artífices disso tinham que ser os próprios padres!

Os padres ganhos por essa religião nova, deveriam continuar exercendo o sacerdócio na religião antiga. E aproveitando o prestígio deles de sacerdotes para ensinar essas coisas erradas. E, com essa forma, haveria um determinado momento em que a Igreja estaria toda ela transformada.

Eles falavam – São Pio X não era tão claro a esse respeito, mas há qualquer coisa assim – num grande concílio que então proclamaria a religião nova. E estaria acabada a Igreja Católica. Está pronto.

Isso formava uma sociedade secreta, que tinha por obrigação manter em segredo entre os seus membros essa doutrina. E formar uma ajuda mútua de tal maneira que, quando um dessa sociedade escrevesse um livro, todos pusessem nos cornos da lua: “Que livro extraordinário! Que livro magnífico!” Porque o livro favorecia a doutrina. Quando, pelo contrário, um outro escrevesse um livro contra essa doutrina, eles fingiam que não tinha lido: “Que livro? Não sei… não teve repercussão! Eu não sei disso. Quem é esse autor? Nunca ouvi falar dele! Não sei… Não existe!”

E nos jornais e nas revistas dirigidas por eles, eles deveriam fazer o silêncio sobre o bem; o silêncio sobre os ataques contra eles. E apenas falar, falar, falar, de um modo velado, mas de um modo cada vez menos velado, falar da doutrina nova, da religião nova.

São Pio X disse que esta era a pior heresia de todos os séculos! A pior heresia! E acrescentou que era a pior heresia, porque o mal não estava do lado de fora da Igreja, procurando entrar, como no tempo de Lutero. Lutero rompeu com a Igreja, saiu da Igreja, e de fora para dentro procurou atacá-la. Diz ele: “Não. O mal é um veneno que se injetou nas próprias veias da Igreja, e quer destruí-la de dentro para fora!”

* A energia de São Pio X contra os propagadores da “nova doutrina”

E por causa disso ele excomungou uma série de autores e seguidores dessa doutrina, a que ele deu o nome de “Modernismo”, autores dos quais alguns padres, e alguns até padres famosos. Talvez o mais famoso dele fosse Bonaiutti. Professor da Universidade de Roma, famoso pela sua cultura, pela sua instrução, homem muito alto, com uma grande barba preta, vestindo sempre batina e chapéu eclesiástico, etc. Mas, propagando na cátedra da Universidade de Roma, no púlpito quando ele falava, nos confessionários quando ele atendia confissão, propagando essa doutrina falsa.

Bem, então São Pio X a vários desses ele excomungou. Quer dizer, expulsou da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. E com uma excomunhão tão tremenda, que se chama excomunhão vitando. Quer dizer, ele deve ser evitado. Vitando em latim quer dizer isso. Quer dizer, quem andando pela rua o visse vindo na mesma calçada, se o conhecesse, tinha obrigação de mudar de calçada, antes de passar perto dele. Para indicar que ele, pela heresia dele, era tido em horror pelos homens.

Esse Bonaiutti foi excomungado, continuou a lecionar na Universidade de Roma, e continuou a usar batina e chapéu de sacerdote, e continuou a pregar seus erros até morrer. Mas, São Pio X cortou em dois a Igreja nesse ponto, pegando essa parte podre e excomungando, como um cirurgião de valor pega um membro gangrenado e corta, para que todo o corpo não se deixe tomar pela gangrena. Foi de uma energia como poucas vezes se tem visto na história da Igreja.

Acontece que isto foi como um raio no mundo inteiro! Tanto mais que São Pio X estabeleceu um decreto pelo qual cada padre que fosse nomeado para um cargo, deveria fazer um juramento antimodernista. E nesse cargo combater o Modernismo. De maneira que cada padre fazia vários juramentos assim na vida, e com as mãos sobre os Santos Evangelhos. Eu vi padres fazerem juramento antimodernista. E assim, apertava pela consciência dos padres a mais não poder.

* A misteriosa morte de São Pio X

Mas, São Pio X uma noite deitou-se bem. E o Cardeal Merry del Val, que era seu Secretário de Estado, conta isto assim. Trabalharam juntos até tarde. Ele se despediu de São Pio X e foi para a casa dele. E de manhã, bem cedo, ele foi acordado com o aviso de que o Papa estava muito mal.

Ele vestiu-se depressa e foi ao Vaticano. Chegando ao quarto de São Pio X, ele encontrou São Pio X atacado por uma doença, mudo. E fez um sinal a ele de que queria escrever alguma coisa. Ele arranjou, papel, lápis. São Pio X tentou escrever essa coisa, mas não conseguiu escrever uma letra. A mão caiu, e ele fez assim, como quem diz: “Não posso fazer nada”.

O Cardeal Merry del Val diz: Só no dia do Juízo Final – nas “Memórias” estava isso – se saberá naquela noite o que se passou no Vaticano. Como é que o Papa, que se deitou saudável amanheceu assim?

* Durante anos o espraiar-se da pior heresia de todos os tempos

O fato é que pouco depois o Papa morreu. E vieram outros papas. E esses outros papas foram muito menos atentos ao perigo. E o resultado é que durante o pontificado do Papa Pio XI, o problema renasceu. E então, os Srs. têm que de 1912, mais ou menos, a 39 – portanto, 27 anos mais ou menos – durante esse período essa heresia ficou por debaixo da terra. Mas, cavando, se espraiando.

E no começo do pontificado de Pio XII (Pio XI acabou em 39, mais ou menos), a coisa se dilatou muito. E daí vem a crise que é a atual crise da Igreja. E é essa mesma heresia, que nunca deixou de existir, que existiu subterrânea, e que de repente aflorou de novo, porque julgou, e julgou acertadamente, que tinha conseguido condições favoráveis. Então, começou a degringolada da Igreja, já a partir de certo momento do pontificado de Pio XII.

Depois, João XXIII e os papas sucessivos até nossos dias, têm tido esta crise na Igreja.

Então, eu mostro aos Srs. que nossa situação presente é de um revigoramento, ou, se os Srs. quiserem, de um renascimento desta terrível heresia que um Papa elevado por Pio XII à honra dos altares – São Pio X – declarou a pior heresia de todos os tempos; a súmula de todas as heresias de todos os tempos. Ou seja, o modernismo.

Esse modernismo se chama hoje em dia “progressismo”. Mas, é a mesma coisa. Teologia da Libertação, etc., etc., tudo isso, CEBs, etc., são ramos do progressismo. O qual, por sua vez, é o modernismo com nome mudado. Mas, tudo isso é um só veio.

* As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja!

Esta descrição leva os Srs. a verem que nós temos dentro da Igreja, que é uma organização una, instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, e com a missão de ensinar até o fim do mundo, e contra a qual as portas do inferno não haveriam de prevalecer – “as portas do inferno” é um modo meio literário, meio figurado, do gosto dos orientais (Nosso Senhor nasceu no Oriente e falava a orientais), para falar as forças do inferno! “Não haveriam de prevalecer”, quer dizer, não haveriam de vencer.

Quando Ele fundou a Igreja, Ele designou São Pedro como primeiro Papa, com essas palavras: “Pedro, tu és pedra. E sobre essa pedra Eu edificarei a minha Igreja. E as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

Quer dizer, “Pedro, tu és pedra”, quer dizer, tu és o rochedo, a Santa Sé é o rochedo sobre o qual estaria construída a Igreja; e as portas do inferno não venceriam a Igreja. Quer dizer, todo o esforço que o inferno fizesse contra a Igreja, não seria suficiente para vencê-la. Essa era a promessa que fica valendo até o fim dos tempos.

Então, nós temos que a pior das heresias contra a Igreja nasceu no século XX, e está corroendo a Igreja quase até o fim do século XX. Esta é a realidade que nós temos diante de nós. E esta realidade faz com que nós estejamos no auge de uma crise, que São Pio X quis atalhar, mas tendo morrido misteriosamente, não conseguiu atalhar. Esta é a realidade.